sábado, 26 de dezembro de 2015

SUBSTÂNCIA E CONDIMENTO

       Resistimos. A vida não é nada sem tempero.


       Apesar do PT, amanhã há de ser outro dia.

     2015 foi muito, realmente muito difícil. Pelo menos para quem trabalha. Para as sinecuras, não sei. Os amiguinhos do poder. Os bródi. Os bráun. Os gil.

     Para quem trabalha de fato, foi um ano perdido. O governo jogou o país no esgoto, e está difícil de tirar. Mas já disse Silvio Meira: nada resiste ao trabalho. Muita gente trabalha de verdade, e não usa estrelinha no peito. Usa vergonha na cara.

     E pra falar em cara, basta a compra do dia a dia. Essa sim é cara. A inflação da imprensa, de 10% ao ano, perde da inflação da realidade, de 20 a 30% ao mês. Mas é culpa minha, sim, se eu tenho alfavaca no quintal. Manjerona, pimenta, tomilho, parreira, lavanda. Principalmente lavanda, que cura tudo. Com esses condimentos, até um ovo frito vira um banquete. A vida não é nada sem tempero. Coisa de burguês. De elite branca golpista.


     É assim que vamos virando o jogo. Com substância e com tempero. Com a verdade, que vencerá. Nem o Supremo Teatro Federal vai impedir essa vitória.

     Feliz 2016, pessoal. Abraços, sucesso, saúde, tudo de bom. Grana (que não precisa roubar) pra todo mundo. A verdade vem aí.

     O falso se esgota com o tempo. Vira uma barata morta.

     E em breve, não vai ficar nem a casca.

Fernando Lomardo
Ator, dramaturgo, músico e arte-educador




sábado, 19 de dezembro de 2015

VINTE E UM ANOS NO DEGASE

por Isabella Reinert

Vinte e um anos. Da perplexidade inicial pouco restou.

Ao entrar para o Degase, o contato com os adolescentes infratores foi a confirmação da miséria que há muito nos assola. Que espécie de sociedade produz tanto desamparo? Havia entre os profissionais recém-chegados do concurso uma vontade de realizar um bom trabalho, e em alguns casos, de transformar aquele precário estado de coisas. Os primeiros embates, naturalmente, aconteceram entre os trabalhadores remanescentes das instituições que atuavam por anos com uma cultura consolidada no antigo Código de Menores, e os animados concursados inspirados no Estatuto da Criança e do Adolescente. Como qualquer outro lugar onde há privação de liberdade, o exercício da força e seu abuso são uma constante.

Havia a esperança de que o ECA seria assimilado com o tempo, e naquele momento ele tinha apenas quatro anos. Uma lei muito jovem, que mudava paradigmas, com os desafios de ser implantada, ainda mais em um país onde as leis “pegam” ou não.

Este conflito persiste até hoje, vinte e um anos depois, com algumas mudanças na parte física das unidades, mas quase nada na estrutura do atendimento.

Exatamente agora, dentro do ônibus, indo para um Seminário organizado pelo Degase, vejo pela janela uma ação policial. Estão fortemente armados e conduzem um homem jovem para uma viatura. Inevitável pensar que este tipo de coisa não causa surpresa ou apreensão. Passageiros entram no ônibus, riem ao passar pela roleta e encontrarem um lugar para sentar. É mais um dia igual a tantos. Se as manifestações de violência são frequentes, banalizam-se. Se suportamos até agora, podemos prosseguir, afinal nossa capacidade de acomodação é ilimitada.

Mais viaturas ao longo do caminho, e a possibilidade de algo estar acontecendo inquieta.

A poluição da Baía de Guanabara é extrema, o mau cheiro invade o ar. A corrupção domina as manchetes, e exala o mesmo odor podre. Tudo faz sentido. O que se deduz é terrivelmente coerente.  Os resultados medíocres na recuperação de jovens infratores incomodam aos profissionais que acreditavam em suas ações, não ao Estado que enseja e patrocina a miséria. Os dividendos da pobreza são desejáveis, rendem discursos inflamados, subsídios eternos e um porvir sem cor.

Vinte e um anos. Para mim, tantos. Para nós, tão pouco.

Isabella Reinert Thomé

Dezembro de 2015

Isabella Reinert Thomé é professora, cantora, atriz e perfumista. Concursada pelo Município e pelo Estado do Rio de Janeiro, trabalhahá 21 anos como Professora de Artes Cênicas e de Perfumaria do DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas, antiga FEBEM).

sábado, 12 de dezembro de 2015

UMA ESTRATÉGIA PARA 2018

por Fernando Lomardo

     Sou francamente a favor do impeachment. Como defendi em meu último artigo, que pode ser acessado no link ali embaixo, o impedimento político de Dilma Roussef é a melhor coisa que pode acontecer para o Brasil atualmente. Mas já houve um momento em que eu defendia o sangramento de Dilma até o fim do mandato. A razão para isso é simples: caso Temer herdasse o trono e fizesse um governo pior (e acreditem, isso é possível, pelo simples fato de estarmos no Brasil), Lula seria uma alternativa para 2018. E não é possível imaginar quadro mais catastrófico do que o retorno ao poder do governante mais corrupto e enganador da história desse país. Já se Dilma continuasse com suas cagadas (como vem continuando) por mais três anos, o PT, na sequência, seria varrido do poder, e adeus Lula e toda a corja. Esse era o meu raciocínio, até algumas semanas atrás.

     No entanto, também não é mais possível continuar com essa... pessoa no poder. Gente, pelo amor de Deus. Onde é que nós estamos? A mulher estoca vento, fala em “mulher-sapiens”, homenageia a mandioca – isso só para falar no que é cômico. Se invertermos a máscara para o lado trágico, aí a gargalhada é interrompida pelo silêncio. A mulher quebrou o país, mentiu para Deus e o mundo, distribuiu grana a dar com o pau para um Congresso fisiológico e quer que a gente pague a conta, sem falar na corrupção – na qual só os cegos e surdos podem imaginar a inocência dessa senhora. E agora, para completar, está preocupada apenas com seu pescoço (aliás, como sempre), enquanto o país se debate entre o zika, a microcefalia, a tragédia de Mariana, o roubo em todas as instâncias (agora já acharam também a Hemobrás e a transposição do São Francisco), a violência urbana, o parcelamento de salários, o adiamento de benefícios trabalhistas... o que mais falta?  É necessário primeiro tirar essa figura de lá, rápido, correndo, pra ontem, e depois pensar em como não permitir que Lula se aproxime nem da presidência de seus sindicatos pelegos, muito menos do Poder Executivo.

     Essa última tarefa seria mais fácil se tivéssemos uma oposição. Não temos. Temos manifestações populares, uma população revoltada e enojada, juristas conscientes como Bicudo e Reale e alguns jornalistas e intelectuais com inteligência suficiente para “fazer as conexões”, como disse Gabeira. Oposição política, atuante no Congresso, não temos. O PSDB é uma piada. Com sua Síndrome de Avestruz, até hoje não disse o que está fazendo lá em Brasília. Zezé Macedo, digo, Marina Silva ainda está “pensando” como a Rede vai se posicionar. Diz a sabedoria popular que “de pensar, morreu um”... bom, deixa pra lá. Quanto ao PSOL, só se preocupa com suas bandeiras de nichos ideológicos – e se o governo acenar com uma secretariazinha qualquer (de preferência ligada às “minorias”), tenho certeza que Wyllys e Alencar vão voando pro Planalto. A gente tá ferrado com essa falta de (o)posição (desculpem o concretismo fácil, não resisti).

     Como então evitar A Volta do Molusco (e não é um filme trash)? Será que basta acreditar que até lá a Lava-Jato e a Zelotes já o terão trancafiado? Ou que o simples escancaramento de toda a merda feita pelo PT fará o eleitor derrotá-lo, como já estamos vendo entre seus aliados Venezuela e Argentina? Será simples assim? Será que teremos essa sorte?

     Quem depende da sorte depende igualmente do azar. Não podemos nos dar esse luxo. Basta um quinto governo do PT para o Brasil virar o Haiti. Assim, é necessário encontrar uma estratégia eleitoral que permita a algum candidato desbancar Lula, caso ele volte com força em 2018 (e acreditem, isso é possível, pelo simples fato de estarmos no Brasil). É preciso, para isso, defrontar-se com Lula no terreno que lhe é fértil: o populismo. Pegando o povo pela emocionalidade. Pois o fiel da balança deverá ser, mais uma vez, as chamadas “classes baixas” – que continuam sendo maioria no país, a despeito do PT viver dizendo que acabou com a miséria. É necessário um discurso que se sintonize com essas camadas.

     O candidato com melhores condições de utilizar esse tipo de estratégia de campanha é Aécio Neves. Por quê? Por ser neto de Tancredo Neves.

     Parte do carisma de Lula está ligada à sua trajetória e ascenção. Um operário que chegou ao poder. O retirante que venceu a selva de pedra. “Vejam, sou ignorante como vocês”, sorria ele, sempre desprezando o estudo formal enquanto recolhia títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por instituições interessadas nessa aproximação. É com esse cabedal que ele se lançará em 2018. Não terá mais o Bolsa Família para arrebanhar votos, já que o programa está indo para o saco mais de dois anos antes da eleição. Lula terá que voltar a vender a ilusão do “Paz e Amor” que o elegeu em 2002.

     Aécio, que até agora não soube aproveitar um único milímetro cúbico das enormes crateras políticas abertas pela incompetência do PT, também pode montar uma trajetória emocional. É diferente da de Lula, mas igualmente mobiliza o afeto popular: ele é neto do cara que reunificou o país em nome da democracia.

     A tragicidade da história do presidente que praticamente morreu no dia da posse (sim, na verdade a morte ocorreu várias semanas depois, mas ele adoeceu no dia exato – foi como se tivesse morrido ali) é uma das poucas na história política do país com dimensão suficiente para gerar verdadeiro impacto psicológico no eleitor. Só se compara ao suicídio de Getúlio. O cartunista Chico Caruso, em um de seus momentos mais inspirados, desenhou a face de Tancredo como se fosse um balão de gás, voando suave para a eternidade, enquanto uma criança vestida de verde e amarelo corria aos prantos em busca do brinquedo perdido. Uma das charges mais marcantes do jornalismo brasileiro. Era o retrato perfeito de um país sem chão, perplexo diante de um golpe inesperado. Um país nocauteado.

     Sim, tudo isso se deu há 31 anos (serão 34, em 2018) e será necessário recuperar essa história para parte significativa da população jovem que a desconhece – ou que não a viveu na pele, desconhecendo assim seus arrepios. Mas é uma história e tanto. Poucos políticos ao redor do globo tem nas costas uma história como essa. Claro que ela envolve também aspectos pessoais e uma série de pudores. Mas sou capaz de afirmar que Tancredo gostaria de ter sua memória resgatada como arma política. Ainda mais por um familiar seu. É necessário – e é legítimo.

     Lula se diz o “O filho do Brasil”, como quer o filme financiado com dinheiro público que reconstitui “a vida” do ex-operário. Aécio é “O neto de Tancredo”. Não existe filme sobre ele, nem sobre seu avô. Pode ser um bom momento para reescrever essa história – não na ficção, mas na realidade.



     Abaixo, o link do artigo em que defendo o impeachment:

POR QUÊ O IMPEACHMENT É IMPERATIVO:

http://quatroasas.blogspot.com/2015/12/por-que-o-impeachmente-e-imperativo.html

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

FLYER POE COM LISTA AMIGA



POR QUÊ O IMPEACHMENT É IMPERATIVO

por Fernando Lomardo

     Tenho visto jornalistas e especialistas idôneos e respeitados se referirem ao impeachment como algo “traumático”. Outro dia foi Ricardo Boechat a repetir essa lenga-lenga, em seu programa na rádio Bandeirantes. Apesar dos tempos atuais serem pouco surpreendentes, porque o ser humano é cada vez mais enfadonhamente previsível, ainda me surpreendo ao ver gente experiente manifestar tamanha ingenuidade. O impeachment é simplesmente a melhor coisa que pode acontecer ao Brasil neste momento, e dizer que ele é traumático corresponde a manifestar no mínimo ignorância pela história recente do país.

     O único exemplo concluso no Brasil (digo “concluso” porque a tentativa contra Getúlio não passou da tentativa) foi o impeachment de Fernando Collor de Melo, o “caçador” cassado. Foi tão traumático quanto um refresco gelado sob um sol de 40 graus. Era a vontade popular e era um grito (o primeiro das últimas décadas) contra a corrupção. Além disso, Collor foi um presidente cujo maior e mais memorável feito foi confiscar o dinheiro dos brasileiros. Sua saída foi mais do que justa e necessária, foi revigorante. E a principal consequência do impeachment foi Itamar Franco instaurar o Plano Real, uma das poucas políticas econômicas a trazer benefícios palpáveis à população, em toda a história do país. Esse foi o trauma: a expulsão (infelizmente temporária) de um político corrupto e o controle da inflação antes incontrolável.

     O caso atual guarda certa semelhança com o dos anos 90. Porque Dilma, o PT e seus aliados também vêm confiscando dinheiro dos brasileiros: através da corrupção que desvia recursos públicos, das pedaladas que mascaram contas fraudulentas, da retenção e corrosão de direitos trabalhistas, como o PIS/PASEP (o deste ano foi adiado para 2016), enquanto a inflação grassa e os preços aumentam como no tempo da ditadura. Esse é o ajuste fiscal que a própria imprensa defende: um ajuste que só bota na tarraqueta do trabalhador e do contribuinte. Ninguém explica por quê o Estado ficou sem dinheiro de uma hora para outra – principalmente porque não falta dinheiro para emendas parlamentares e outras formas de suborno para comprar a manutenção do poder e a facilidade para continuar roubando. Quem acredita que o Estado está realmente sem dinheiro pode ficar ao lado da chaminé esperando o Papai Noel.

     Mas os principais motivos do impeachment são mais simples do que isso: existe nele um caráter de LIMPEZA, e existe nele um caráter de PUNIÇÃO.

     A punição é o próprio afastamento, de Dilma e dos íncubos que a cercam, ávidos de suborno. Mesmo que o impedimento não envolva propriamente a corrupção, mas sim as pedaladas, é imperativo afastar o PT do poder o quanto antes. Claro que o indiciamento, condenação e prisão pelo assalto ao dinheiro público (já sabemos todos que a Petrobras é só o começo de um longo novelo) serão, quando vierem, punições mais justas e severas que o mero impedimento. Mas já é o primeiro castigo, enquanto a condenação maior não vem.

      A limpeza reside no fato de que o processo dará início, de forma gradual e inexorável, à corrosão daquilo que corrói o país: o banditismo do PT. Poderá ser talvez apenas a sua substituição pelo banditismo do PMDB – e se for esse o caso, que o processo se reinicie e tenhamos nova cassação, até que pouco a pouco todos os ratos deixem o navio. Isso pode ser classificado com diversos adjetivos: utópico, ingênuo, otimista, crédulo. Pode, sim, ser tudo isso.

     Mas nunca, em hipótese alguma, será traumático.


     Traumático é ver essa gente continuar roubando e mentindo enquanto diz, com a cara mais lavada, que está melhorando o país.