por Fernando Lomardo
Sou francamente a favor do impeachment.
Como defendi em meu último artigo, que pode ser acessado no link ali embaixo, o
impedimento político de Dilma Roussef é a melhor coisa que pode acontecer para
o Brasil atualmente. Mas já houve um momento em que eu defendia o sangramento
de Dilma até o fim do mandato. A razão para isso é simples: caso Temer herdasse
o trono e fizesse um governo pior (e acreditem, isso é possível, pelo simples
fato de estarmos no Brasil), Lula seria uma alternativa para 2018. E não é
possível imaginar quadro mais catastrófico do que o retorno ao poder do
governante mais corrupto e enganador da história desse país. Já se Dilma
continuasse com suas cagadas (como vem continuando) por mais três anos, o PT,
na sequência, seria varrido do poder, e adeus Lula e toda a corja. Esse era o
meu raciocínio, até algumas semanas atrás.
No entanto, também não é mais possível
continuar com essa... pessoa no poder. Gente, pelo amor de Deus. Onde é que nós
estamos? A mulher estoca vento, fala em “mulher-sapiens”, homenageia a mandioca
– isso só para falar no que é cômico. Se invertermos a máscara para o lado
trágico, aí a gargalhada é interrompida pelo silêncio. A mulher quebrou o país,
mentiu para Deus e o mundo, distribuiu grana a dar com o pau para um Congresso
fisiológico e quer que a gente pague a conta, sem falar na corrupção – na qual
só os cegos e surdos podem imaginar a inocência dessa senhora. E agora, para
completar, está preocupada apenas com seu pescoço (aliás, como sempre),
enquanto o país se debate entre o zika, a microcefalia, a tragédia de Mariana,
o roubo em todas as instâncias (agora já acharam também a Hemobrás e a
transposição do São Francisco), a violência urbana, o parcelamento de salários,
o adiamento de benefícios trabalhistas... o que mais falta? É necessário primeiro tirar essa figura de lá,
rápido, correndo, pra ontem, e depois pensar em como não permitir que Lula se
aproxime nem da presidência de seus sindicatos pelegos, muito menos do Poder
Executivo.
Essa última tarefa seria mais fácil se
tivéssemos uma oposição. Não temos. Temos manifestações populares, uma
população revoltada e enojada, juristas conscientes como Bicudo e Reale e
alguns jornalistas e intelectuais com inteligência suficiente para “fazer as
conexões”, como disse Gabeira. Oposição política, atuante no Congresso, não
temos. O PSDB é uma piada. Com sua Síndrome de Avestruz, até hoje não disse o
que está fazendo lá em Brasília. Zezé Macedo, digo, Marina Silva ainda está
“pensando” como a Rede vai se posicionar. Diz a sabedoria popular que “de
pensar, morreu um”... bom, deixa pra lá. Quanto ao PSOL, só se preocupa com
suas bandeiras de nichos ideológicos – e se o governo acenar com uma
secretariazinha qualquer (de preferência ligada às “minorias”), tenho certeza
que Wyllys e Alencar vão voando pro Planalto. A gente tá ferrado com essa falta
de (o)posição (desculpem o concretismo fácil, não resisti).
Como então evitar A Volta do Molusco (e
não é um filme trash)? Será que basta acreditar que até lá a Lava-Jato e a
Zelotes já o terão trancafiado? Ou que o simples escancaramento de toda a merda
feita pelo PT fará o eleitor derrotá-lo, como já estamos vendo entre seus
aliados Venezuela e Argentina? Será simples assim? Será que teremos essa sorte?
Quem depende da sorte depende igualmente
do azar. Não podemos nos dar esse luxo. Basta um quinto governo do PT para o
Brasil virar o Haiti. Assim, é necessário encontrar uma estratégia eleitoral
que permita a algum candidato desbancar Lula, caso ele volte com força em 2018
(e acreditem, isso é possível, pelo simples fato de estarmos no Brasil). É
preciso, para isso, defrontar-se com Lula no terreno que lhe é fértil: o
populismo. Pegando o povo pela emocionalidade. Pois o fiel da balança deverá
ser, mais uma vez, as chamadas “classes baixas” – que continuam sendo maioria
no país, a despeito do PT viver dizendo que acabou com a miséria. É necessário
um discurso que se sintonize com essas camadas.
O candidato com melhores condições de
utilizar esse tipo de estratégia de campanha é Aécio Neves. Por quê? Por ser
neto de Tancredo Neves.
Parte do carisma de Lula está ligada à sua
trajetória e ascenção. Um operário que chegou ao poder. O retirante que venceu
a selva de pedra. “Vejam, sou ignorante como vocês”, sorria ele, sempre
desprezando o estudo formal enquanto recolhia títulos de Doutor Honoris Causa
concedidos por instituições interessadas nessa aproximação. É com esse cabedal
que ele se lançará em 2018. Não terá mais o Bolsa Família para arrebanhar
votos, já que o programa está indo para o saco mais de dois anos antes da
eleição. Lula terá que voltar a vender a ilusão do “Paz e Amor” que o elegeu em
2002.
Aécio, que até agora não soube aproveitar
um único milímetro cúbico das enormes crateras políticas abertas pela
incompetência do PT, também pode montar uma trajetória emocional. É diferente
da de Lula, mas igualmente mobiliza o afeto popular: ele é neto do cara que
reunificou o país em nome da democracia.
A tragicidade da história do presidente
que praticamente morreu no dia da posse (sim, na verdade a morte ocorreu várias
semanas depois, mas ele adoeceu no dia exato – foi como se tivesse morrido ali)
é uma das poucas na história política do país com dimensão suficiente para
gerar verdadeiro impacto psicológico no eleitor. Só se compara ao suicídio de
Getúlio. O cartunista Chico Caruso, em um de seus momentos mais inspirados,
desenhou a face de Tancredo como se fosse um balão de gás, voando suave para a
eternidade, enquanto uma criança vestida de verde e amarelo corria aos prantos
em busca do brinquedo perdido. Uma das charges mais marcantes do jornalismo
brasileiro. Era o retrato perfeito de um país sem chão, perplexo diante de um
golpe inesperado. Um país nocauteado.
Sim, tudo isso se deu há 31 anos (serão
34, em 2018) e será necessário recuperar essa história para parte significativa
da população jovem que a desconhece – ou que não a viveu na pele, desconhecendo
assim seus arrepios. Mas é uma história e tanto. Poucos políticos ao redor do
globo tem nas costas uma história como essa. Claro que ela envolve também
aspectos pessoais e uma série de pudores. Mas sou capaz de afirmar que Tancredo
gostaria de ter sua memória resgatada como arma política. Ainda mais por um
familiar seu. É necessário – e é legítimo.
Lula se diz o “O filho do Brasil”, como
quer o filme financiado com dinheiro público que reconstitui “a vida” do
ex-operário. Aécio é “O neto de Tancredo”. Não existe filme sobre ele, nem
sobre seu avô. Pode ser um bom momento para reescrever essa história – não na
ficção, mas na realidade.
Abaixo, o link do artigo em que defendo o
impeachment:
POR
QUÊ O IMPEACHMENT É IMPERATIVO:
http://quatroasas.blogspot.com/2015/12/por-que-o-impeachmente-e-imperativo.html