segunda-feira, 4 de abril de 2016

APELO AOS PARLAMENTARES E RESPOSTA A CHICO ALENCAR

por Fernando Lomardo
Inclui réplica do Deputado Chico Alencar, e minha tréplica.

  Aderi à convocação do Movimento Vem Pra Rua, cuja intenção é conscientizar os parlamentares indecisos a votarem a favor do impeachment da Presidente Dilma Roussef. Enviei uma mensagem por e-mail aos deputados e senadores do Estado do Rio de Janeiro, não apenas os indecisos, mas também os contrários. O conteúdo desta mensagem está publicado abaixo.

  O deputado Chico Alencar respondeu à minha mensagem com uma carta-padrão. Não me alongarei sobre ela, deixando a opinião a respeito para os próprios leitores. Mas não pude me furtar a respondê-la, e minha tréplica também segue abaixo.

  Creio que esta troca de mensagens, de qualquer forma, pode ser um exemplo razoável da importância que alguns parlamentares dão às necessidades da população e do país.

MENSAGEM ENVIADA POR E-MAIL
AOS SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS INDECISOS
E TAMBÉM AOS CONTRÁRIOS AO IMPEACHMENT

     Senhores Deputados e Senadores,

aproxima-se o momento político mais importante do Brasil nos últimos 20 anos. O impeachment de Dilma Rousseff é a mais imperativa obrigação do mandato de Vossas Senhorias – e a opinião pública está atenta ao que vem se passando nos quadros políticos da nação. Só o afastamento definitivo da senhora que ocupa a presidência poderá recolocar o país diante das primeiras remotas possibilidades de qualquer retomada de equilíbrio. Qualquer hipótese contrária é a derrocada absoluta, a falência do país e a morte cerebral da democracia. O país vegetará como um corpo mantido por aparelhos. 
     Sabemos que os senhores não se importam muito com a opinião pública. Afinal, a Constituição de 1988 blindou tanto o poder legislativo que os senhores podem praticar qualquer ato sem grandes riscos, independentemente de sua legalidade. No entanto, o país vive nível de politização sem precedentes. Mesmo a pessoa supostamente mais desinformada já tomou ciência das necessidades do país e, cada vez mais, o eleitor sabe valorizar seu voto. Muitos deputados e senadores, particularmente os que duvidam de tal capacidade, terão a oportunidade de confirmar esse fato ao verem-se alijados das opções do eleitorado nos próximos sufrágios.
     O Brasil quer o impeachment. O verdadeiro povo, não o povo manipulado. O Brasil necessita do impeachment. Os verdadeiros movimentos sociais, não os movimentos sindicais comprados com dinheiro público. O Brasil exige o impeachment. O mandato que o povo dá, o povo tira – e poderá tirar o mandato de alguns de vocês, no futuro.
     Cumpram com sua obrigação. Não se omitam e não se alienem nessa hora definitiva para o progresso do país.

     Atenciosamente,

     Fernando Lomardo
     Brasileiro, ator, músico e professor



RESPOSTA AUTOMÁTICA DO DEPUTADO FEDERAL CHICO ALENCAR, 
DO PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE - PSOL

PELA RACIONALIDADE NA HORA DA PAIXÃO EXTREMA

Nossa cabeça, muitas vezes, tende a ser maniqueísta, colocando o bem absoluto contra o mal total. É mais fácil, simplifica o olhar sobre a realidade. Mas, em diversas situações, não ajuda a compreendê-la. Como diz Eliane Brum, em excelente artigo intitulado "Na política, mesmo os crentes precisam ser ateus" (http://bit.ly/1MaYxlB), "nostalgias do preto X branco podem ser perigosas".

O PSOL não caminha ao lado de linchadores ou adoradores. E não considera que essa postura irracional, agressiva e intolerante, que mal disfarça o ódio de classe, ajude o país a sair do impasse. De imediato, reitero que:

1- Apoiamos a Lava Jato em suas investigações, sem seletividade e sem arbitrariedades; indo fundo nos muitos indícios que envolvem PT, PMDB, PSDB, PP e outros partidos e figurões políticos, além de empresários e todos os que participam do condomínio histórico do poder e da corrupção;
2- Nenhuma norma do Estado Democrático de Direito, que tanto nos custou conquistar, pode ser desrespeitada, seja por quem for - juiz, promotor, parlamentar ou governante;
3- Não acreditamos em 'salvadores da pátria' e sim em sujeitos coletivos; a consciência crítica da cidadania deve se sobrepor ao sentimento 'justiceiro' e ao senso comum ("infeliz o país que precisa de heróis" - Bertolt Brecht);
4- O governo Dilma é indefensável e a ele fazemos oposição programática e de esquerda, desde o seu início, desde os tempos que tinha alta popularidade;
5- Somos contra abrigar em função de direção pessoa investigada (ou réu) em crime de corrupção;
6- Impeachment é o ato constitucional mais grave de nossa ordem democrática. Este pedido de impeachment de Dilma, baseado em 'pedaladas fiscais', e impulsionado por entidades empresariais e pela mídia hegemônica, não se sustenta; sem provas robustas de crimes de responsabilidade e de atos de corrupção, o PSOL não apoia ato de tal peso contra qualquer governante eleito, ainda que altamente impopular (como Dilma);
7- É preciso retomar o debate sobre uma Reforma Política profunda, que o Congresso - presidido pelos denunciados Cunha e Renan(!) e composto majoritariamente por parlamentares financiados por grandes grupos econômicos - recusou-se a fazer. Nesse debate público e urgente devemos incluir o referendo revogatório, entre outros temas;
8 - Não adianta trocar governante (nossa linha sucessória vai do mal ao pior!) sem mudar a estrutura oligárquica do Estado brasileiro e sua relação com a sociedade, para que seja cada vez mais transparente, democrática e participativa.

"Quanto mais profunda a noite, mais carrega em si a madrugada" (D. Helder Câmara).

Mandato Chico Alencar (PSOL/RJ)


MINHA RESPOSTA AO DEPUTADO CHICO ALENCAR

     Não esperava outra coisa de Chico Alencar: uma resposta-padrão, supostamente embasada mas recheada de belas citações vazias que apenas escondem a incapacidade deste senhor de verdadeiramente se posicionar ante o que quer que seja. 
     A única racionalidade possível no momento é o puro e simples cumprimento da lei, que determina a punição de criminosos – categoria na qual se insere a presidente Dilma Rousseff. Qualquer outra alternativa equivale a defender criminosos, tarefa que reservamos aos advogados a isso dedicados. Não há paixão no cumprimento da legalidade. 
     Sabemos ao lado de quem o PSOL caminha: daqueles que podem oferecer alguma boa oportunidade de cargo ou benesse. Se o partido apoiasse a LavaJato, não estaria ao lado do PT na Tropa de Choque que visa infringir a lei, desrespeitar a constituição e defender criminosos, barrando o impeachment imperativo para a nação. 
     Mentiroso deslavado o servidor público que afirma não crer em salvadores da pátria enquanto se cala ante os crimes e as artimanhas do maior deles, o ex-sindicalista e ex-torneiro mecânico Luís Inácio da Silva, exemplo de criminoso acobertado pelo parlamento e pelo judiciário. Hipócrita o deputado que se refere a “grandes grupos econômicos” quando sabe que são estes que patrocinam e acobertam o governo criminoso que este mesmo deputado defende. Cínico, ardiloso deputado o que apregoa “oposição programática” quando na verdade mantém a pusilânime posição de coligado, porém tentando disfarçá-la com discursos de revolução francesa. Gato escondido com o rabo de fora. Atitude de poltrão. 
     Manifesto aqui meu mais completo desprezo pelos parlamentares que apregoam falsa oposição enquanto esperam a oportunidade de executar as mesmas ações capciosas dos supostos opositores. Antes o deputado reacionário e fisiológico que defende abertamente a Bolívia, a Venezuela e o Brasil do PT, sabendo que defende o indefensável mas, pelo menos, sem mascarar-se com falso discurso.
     Posso, ante tanta covardia, apenas repetir o que já disse anteriormente: o PT é o PSOL de bengala e dentadura; o PSOL é o PT de calça curta e pirulito na mão.

     Fernando Lomardo
     Brasileiro, ator, músico e professor