domingo, 8 de novembro de 2015

O ESPAÇO QUE A IMPRENSA DÁ

por Fernando Lomardo

     A imprensa brasileira trabalha, silenciosamente, para reeleger o PT. É a única conclusão possível. É a única explicação viável para o enorme espaço que o partido mais envolvido em corrupção da história da república recebe dos órgãos de imprensa – a mesma imprensa que esse mesmo partido chama de golpista, desde quando o ex-grevista Lula da Silva, na época ocupando o trono de presidente, tentou criar a Agência Nacional de Imprensa (cujo nome remete imediatamente ao Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo de Getúlio), com a função de censurar a imprensa livre e difundir a ideologia do regime – ideologia que, de resto, só deve se aplicar aos eleitores, que vivem de programa social, enquanto o governo e o partido vivem de milhões desviados do dinheiro público.

     Esse grupo político mantém-se no poder com uma considerável ajuda, mesmo com a conivência, de nosso jornalismo político. Uma conivência talvez involuntária, o que a torna mais constrangedora na medida em que vem de profissionais que deviam pautar-se pelo pensamento crítico.

     Há dias atrás, Lula falou em um evento do PT. Como sempre, culpou a elite e a crise internacional (???) pelos problemas do Brasil, e a imprensa pelas investigações em curso, todas inventadas por jornalistas de direita que não gostam de pobres nem de nordestinos, no dizer do ex-grevista. Todas as emissoras de TV foram pródigas em mostrar enormes trechos do pronunciamento do cacique petista. Emissoras de jornalismo da TV paga editaram trechos de 15 a 20 minutos, impingindo a ideologia (???) lulista ao espectador.

     À exceção de alguns colunistas como Fernando Gabeira e Ricardo Noblat (que também reproduz textos de outros inconformados como Mary Zaidan, Elton Simões e Maria Helena Rubinato), ou de um órgão como a revista Veja, a postura da imprensa em relação ao assalto organizado aos cofres do país, aos direitos do cidadão e à VERDADE, à pura e simples verdade, é de uma fleuma irritante. Uma imprensa blasé que se comporta de maneira casualmente neutra, como se todo o banditismo que domina a política nacional pudesse ser “analisado”, decomposto friamente, com olhares de um cientista pretensioso que examina uma água-viva de outro planeta. Parece que a imprensa não tem nada a ver com isso. Parece que o roubo institucional não a alcança, não a altera, não a prejudica. Escudada no falacioso argumento da imparcialidade, a grande imprensa se cala e nos impinge 15 minutos de Lula dizendo o que bem entender, sem que ninguém esboce reação.

     Nunca vi darem esse espaço a outro partido. Nunca vi nenhuma emissora repetir 10, 15, 20 minutos de um encontro, evento, reunião, seja lá o que for, de qualquer outro partido da nação, da mesma maneira como dão espaço ao PT. Parece que Inácio ainda exerce inelutável fascínio sobre os jornalistas brasileiros, que parecem hipnotizados quando se encontram com o “estadista planetário”, segundo o título até hoje inexplicável do Le Monde. Tampouco vejo qualquer órgão da imprensa contestar com determinação os abusos, calúnias e agressões praticados por esse falso migrante. Ele fala o que quer e ninguém contesta. Nenhum jornalista cobra dele: “Prove o que está dizendo”. Só se exige provas da Polícia Federal.

     Em entrevistas recentes, constatamos mais uma vez o assoalho de ovos que parece se alastrar diante da imprensa quando se trata do PT e de seu governo. Miriam Leitão entrevista o ministro José Eduardo Cardozo, Kennedy Alencar entrevista Lula. Em ambos os casos as perguntas são cautelosas, tímidas. Comportadas. Uma postura longe de qualquer combatividade, atitude tão necessária em um momento em que o país agoniza e os responsáveis, cavalgando a hipocrisia, respondem como o editor-fake da extinta revista MAD: “Quem, eu me preocupar”?

     A entrevista de Kennedy Alencar com Lula é de fato exemplar. A começar pelo cenário, um típico painel de fundo de campanha eleitoral: fotos gigantes de Lula em diversas épocas, bradando, sorrindo, diante de uma multidão (quando Kennedy entrevistou Fernando Henrique, em outubro deste ano, o cenário era apenas o mobiliário da sala, sem fotos, sem grandiloquência).

     Cínico, Lula, que sempre desqualificou as investigações do Mensalão e da Lava-Jato, diz que foi nos 12 anos do PT que as instituições se fortaleceram. Que isso não acontecia há 15 anos, evidentemente referindo-se ao governo FHC. Kennedy assentiu. Não lembrou a Lula que, “a quinze anos atrás”, o único pseudo-escândalo que atingiu o governo tucano foi a desmascarada Operação Cayman – uma farsa inventada pelo PT e rapidamente anulada pela Polícia Federal, que comprovou serem falsos todos os documentos. Não lembrou a Lula que a tal “pasta cor-de-rosa, que nunca apareceu”, não apareceu simplesmente porque nunca existiu, como provaram as investigações. Não relembrou ao entrevistado que a corrupção mais devastadora da história do país começou com o Mensalão, no governo Lula, e se agigantou no Petrolão, que envolve tanto o governo do ex-sindicalista quanto o de sua criatura Dilma Roussef. As referências de Kennedy a estes dois escândalos foram breves e superficiais. Lula tentou controlar a imprensa e o STF, vive tentando controlar o Ministério Público e se pudesse, botaria todos os oposicionistas em cana, como bom castrista. Mas afirma que seu governo investigou alguma coisa, e Kennedy assente calado.

     Sabemos que Lula só fala para platéias compradas. O verdadeiro povo não o engole e não o aceita. Ele mesmo já confessou, manhoso e chorão, que não pode ir a restaurantes ou a lugares públicos. Evita o verdadeiro cidadão. Quem ouve seus discursos são apenas papagaios de pirata alugados a preço de banana e alguns grandes empresários que vêm se dando bem com o petê no poder.  Assim, seu discurso mitomaníaco, não sendo veiculado, ficaria lá, restrito aos íncubos, aos cumpanhêro e cumpanhêra idiotizados que balançam bandeirinhas vermelhas. Ficaria restrito a esse público domado – se não fosse o favor da imprensa. Se não fosse a imprensa brasileira oferecer 40 minutos de palanque. Se não fosse a imprensa brasileira, em sua esmagadora maioria, repetir, em todos os seus horários, áudio e vídeo do indigesto palestrante impedido de frequentar restaurantes.


     O próprio Lula admitiu ao final da entrevista (provavelmente em mais um ato falho de quem desconhece armadilhas da linguagem): “Eu estou fazendo política a partir de hoje”. Com um espaço desse tamanho, até eu faria. Com um espaço de 40 minutos de uma emissora de grande audiência, quem não quer? Essa é a nossa “imprensa golpista”. A continuar assim, o PT não precisará mais desviar dinheiro público para financiar campanhas: a imprensa dará o espaço gratuitamente. E continuará posando de “analista” e “especialista”, enquanto o país afunda irreversivelmente.