por
Fernando Lomardo
Tenho visto jornalistas e especialistas idôneos
e respeitados se referirem ao impeachment como algo “traumático”. Outro dia foi
Ricardo Boechat a repetir essa lenga-lenga, em seu programa na rádio
Bandeirantes. Apesar dos tempos atuais serem pouco surpreendentes, porque o ser
humano é cada vez mais enfadonhamente previsível, ainda me surpreendo ao ver
gente experiente manifestar tamanha ingenuidade. O impeachment é simplesmente a
melhor coisa que pode acontecer ao Brasil neste momento, e dizer que ele é
traumático corresponde a manifestar no mínimo ignorância pela história recente
do país.
O único exemplo concluso no Brasil (digo
“concluso” porque a tentativa contra Getúlio não passou da tentativa) foi o
impeachment de Fernando Collor de Melo, o “caçador” cassado. Foi tão traumático
quanto um refresco gelado sob um sol de 40 graus. Era a vontade popular e era
um grito (o primeiro das últimas décadas) contra a corrupção. Além disso,
Collor foi um presidente cujo maior e mais memorável feito foi confiscar o
dinheiro dos brasileiros. Sua saída foi mais do que justa e necessária, foi
revigorante. E a principal consequência do impeachment foi Itamar Franco
instaurar o Plano Real, uma das poucas políticas econômicas a trazer benefícios
palpáveis à população, em toda a história do país. Esse foi o trauma: a
expulsão (infelizmente temporária) de um político corrupto e o controle da
inflação antes incontrolável.
O caso atual guarda certa semelhança com o
dos anos 90. Porque Dilma, o PT e seus aliados também vêm confiscando dinheiro
dos brasileiros: através da corrupção que desvia recursos públicos, das
pedaladas que mascaram contas fraudulentas, da retenção e corrosão de direitos
trabalhistas, como o PIS/PASEP (o deste ano foi adiado para 2016), enquanto a
inflação grassa e os preços aumentam como no tempo da ditadura. Esse é o ajuste
fiscal que a própria imprensa defende: um ajuste que só bota na tarraqueta do
trabalhador e do contribuinte. Ninguém explica por quê o Estado ficou
sem dinheiro de uma hora para outra – principalmente porque não falta dinheiro
para emendas parlamentares e outras formas de suborno para comprar a manutenção
do poder e a facilidade para continuar roubando. Quem acredita que o Estado
está realmente
sem dinheiro pode ficar ao lado da chaminé esperando o Papai Noel.
Mas os principais motivos do impeachment
são mais simples do que isso: existe nele um caráter de LIMPEZA, e existe nele
um caráter de PUNIÇÃO.
A punição é o próprio afastamento, de
Dilma e dos íncubos que a cercam, ávidos de suborno. Mesmo que o impedimento
não envolva propriamente a corrupção, mas sim as pedaladas, é imperativo
afastar o PT do poder o quanto antes. Claro que o indiciamento, condenação e
prisão pelo assalto ao dinheiro público (já sabemos todos que a Petrobras é só
o começo de um longo novelo) serão, quando vierem, punições mais justas e severas
que o mero impedimento. Mas já é o primeiro castigo, enquanto a condenação
maior não vem.
A
limpeza reside no fato de que o processo dará início, de forma gradual e
inexorável, à corrosão daquilo que corrói o país: o banditismo do PT. Poderá
ser talvez apenas a sua substituição pelo banditismo do PMDB – e se for esse o
caso, que o processo se reinicie e tenhamos nova cassação, até que pouco a
pouco todos os ratos deixem o navio. Isso pode ser classificado com diversos
adjetivos: utópico, ingênuo, otimista, crédulo. Pode, sim, ser tudo isso.
Mas nunca, em hipótese alguma, será
traumático.
Traumático é ver essa gente continuar
roubando e mentindo enquanto diz, com a cara mais lavada, que está melhorando o
país.
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