sábado, 12 de dezembro de 2015

UMA ESTRATÉGIA PARA 2018

por Fernando Lomardo

     Sou francamente a favor do impeachment. Como defendi em meu último artigo, que pode ser acessado no link ali embaixo, o impedimento político de Dilma Roussef é a melhor coisa que pode acontecer para o Brasil atualmente. Mas já houve um momento em que eu defendia o sangramento de Dilma até o fim do mandato. A razão para isso é simples: caso Temer herdasse o trono e fizesse um governo pior (e acreditem, isso é possível, pelo simples fato de estarmos no Brasil), Lula seria uma alternativa para 2018. E não é possível imaginar quadro mais catastrófico do que o retorno ao poder do governante mais corrupto e enganador da história desse país. Já se Dilma continuasse com suas cagadas (como vem continuando) por mais três anos, o PT, na sequência, seria varrido do poder, e adeus Lula e toda a corja. Esse era o meu raciocínio, até algumas semanas atrás.

     No entanto, também não é mais possível continuar com essa... pessoa no poder. Gente, pelo amor de Deus. Onde é que nós estamos? A mulher estoca vento, fala em “mulher-sapiens”, homenageia a mandioca – isso só para falar no que é cômico. Se invertermos a máscara para o lado trágico, aí a gargalhada é interrompida pelo silêncio. A mulher quebrou o país, mentiu para Deus e o mundo, distribuiu grana a dar com o pau para um Congresso fisiológico e quer que a gente pague a conta, sem falar na corrupção – na qual só os cegos e surdos podem imaginar a inocência dessa senhora. E agora, para completar, está preocupada apenas com seu pescoço (aliás, como sempre), enquanto o país se debate entre o zika, a microcefalia, a tragédia de Mariana, o roubo em todas as instâncias (agora já acharam também a Hemobrás e a transposição do São Francisco), a violência urbana, o parcelamento de salários, o adiamento de benefícios trabalhistas... o que mais falta?  É necessário primeiro tirar essa figura de lá, rápido, correndo, pra ontem, e depois pensar em como não permitir que Lula se aproxime nem da presidência de seus sindicatos pelegos, muito menos do Poder Executivo.

     Essa última tarefa seria mais fácil se tivéssemos uma oposição. Não temos. Temos manifestações populares, uma população revoltada e enojada, juristas conscientes como Bicudo e Reale e alguns jornalistas e intelectuais com inteligência suficiente para “fazer as conexões”, como disse Gabeira. Oposição política, atuante no Congresso, não temos. O PSDB é uma piada. Com sua Síndrome de Avestruz, até hoje não disse o que está fazendo lá em Brasília. Zezé Macedo, digo, Marina Silva ainda está “pensando” como a Rede vai se posicionar. Diz a sabedoria popular que “de pensar, morreu um”... bom, deixa pra lá. Quanto ao PSOL, só se preocupa com suas bandeiras de nichos ideológicos – e se o governo acenar com uma secretariazinha qualquer (de preferência ligada às “minorias”), tenho certeza que Wyllys e Alencar vão voando pro Planalto. A gente tá ferrado com essa falta de (o)posição (desculpem o concretismo fácil, não resisti).

     Como então evitar A Volta do Molusco (e não é um filme trash)? Será que basta acreditar que até lá a Lava-Jato e a Zelotes já o terão trancafiado? Ou que o simples escancaramento de toda a merda feita pelo PT fará o eleitor derrotá-lo, como já estamos vendo entre seus aliados Venezuela e Argentina? Será simples assim? Será que teremos essa sorte?

     Quem depende da sorte depende igualmente do azar. Não podemos nos dar esse luxo. Basta um quinto governo do PT para o Brasil virar o Haiti. Assim, é necessário encontrar uma estratégia eleitoral que permita a algum candidato desbancar Lula, caso ele volte com força em 2018 (e acreditem, isso é possível, pelo simples fato de estarmos no Brasil). É preciso, para isso, defrontar-se com Lula no terreno que lhe é fértil: o populismo. Pegando o povo pela emocionalidade. Pois o fiel da balança deverá ser, mais uma vez, as chamadas “classes baixas” – que continuam sendo maioria no país, a despeito do PT viver dizendo que acabou com a miséria. É necessário um discurso que se sintonize com essas camadas.

     O candidato com melhores condições de utilizar esse tipo de estratégia de campanha é Aécio Neves. Por quê? Por ser neto de Tancredo Neves.

     Parte do carisma de Lula está ligada à sua trajetória e ascenção. Um operário que chegou ao poder. O retirante que venceu a selva de pedra. “Vejam, sou ignorante como vocês”, sorria ele, sempre desprezando o estudo formal enquanto recolhia títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por instituições interessadas nessa aproximação. É com esse cabedal que ele se lançará em 2018. Não terá mais o Bolsa Família para arrebanhar votos, já que o programa está indo para o saco mais de dois anos antes da eleição. Lula terá que voltar a vender a ilusão do “Paz e Amor” que o elegeu em 2002.

     Aécio, que até agora não soube aproveitar um único milímetro cúbico das enormes crateras políticas abertas pela incompetência do PT, também pode montar uma trajetória emocional. É diferente da de Lula, mas igualmente mobiliza o afeto popular: ele é neto do cara que reunificou o país em nome da democracia.

     A tragicidade da história do presidente que praticamente morreu no dia da posse (sim, na verdade a morte ocorreu várias semanas depois, mas ele adoeceu no dia exato – foi como se tivesse morrido ali) é uma das poucas na história política do país com dimensão suficiente para gerar verdadeiro impacto psicológico no eleitor. Só se compara ao suicídio de Getúlio. O cartunista Chico Caruso, em um de seus momentos mais inspirados, desenhou a face de Tancredo como se fosse um balão de gás, voando suave para a eternidade, enquanto uma criança vestida de verde e amarelo corria aos prantos em busca do brinquedo perdido. Uma das charges mais marcantes do jornalismo brasileiro. Era o retrato perfeito de um país sem chão, perplexo diante de um golpe inesperado. Um país nocauteado.

     Sim, tudo isso se deu há 31 anos (serão 34, em 2018) e será necessário recuperar essa história para parte significativa da população jovem que a desconhece – ou que não a viveu na pele, desconhecendo assim seus arrepios. Mas é uma história e tanto. Poucos políticos ao redor do globo tem nas costas uma história como essa. Claro que ela envolve também aspectos pessoais e uma série de pudores. Mas sou capaz de afirmar que Tancredo gostaria de ter sua memória resgatada como arma política. Ainda mais por um familiar seu. É necessário – e é legítimo.

     Lula se diz o “O filho do Brasil”, como quer o filme financiado com dinheiro público que reconstitui “a vida” do ex-operário. Aécio é “O neto de Tancredo”. Não existe filme sobre ele, nem sobre seu avô. Pode ser um bom momento para reescrever essa história – não na ficção, mas na realidade.



     Abaixo, o link do artigo em que defendo o impeachment:

POR QUÊ O IMPEACHMENT É IMPERATIVO:

http://quatroasas.blogspot.com/2015/12/por-que-o-impeachmente-e-imperativo.html

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