ARRASTANDO DEMAGOGIA – Mario Vitor
Rodrigues
http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/09/arrastando-demagogia.html
27/09/2015
Uma parede humana avança sobre os banhistas; pavor e insegurança. Sem
que se saiba de onde, começa uma grande confusão, o pânico toma conta da praia.
As pessoas correm em todas as direções, são mulheres, crianças, pessoas
desesperadas à procura de um lugar seguro. A violência aumenta quando gangues
rivais se encontram. Este grupo cerca um rapaz que cai na areia e é espancado.
A poucos metros dali, outro bando avança sobre a quadra de vôlei, os jogadores
se afastam e cercam as barracas para proteger mulheres e crianças. Dois
policiais, apenas dois, chegam até a areia, eles estão armados mas parecem não
saber o que fazer com tanta confusão e correria. Perto dali, um rapaz ignora a
chegada dos policiais para roubar. Ele se abaixa, pega uma bolsa de praia e
corre. Veja de novo, ele é seguido pelos companheiros de gangue, que impedem a
aproximação das pessoas.
Se
ainda existiam dúvidas sobre a profundidade alcançada pelas garras do populismo
de esquerda entre nós, desde o último fim de semana já não faz mais sentido
tê-las. Não após o nível do debate provocado pelos arrastões em Ipanema.
Afirmo
sem medo, jamais teria vez em uma sociedade lúcida, para não dizer bem
intencionada, a inversão de valores defendida nas abordagens sobre o tema. Uma
ladainha já conhecida, neste caso determinada a relativizar furtos e assaltos,
que teve como alicerces as falácias de sempre: injustiça social, racismo e
violência policial.
Sobre
o primeiro ponto, sequer vale a pena estabelecer comparações com países de
perfis sócio-econômicos similares ao nosso. Seria dar fôlego aos interessados
em se aproveitar do mais puro e simples banditismo para fortalecer discurso
ideológico.
Já
a premissa de amalgamar pessoas ao bel-prazer, diga-se, utilizando a cor da
pele como desculpa, é oriunda da mesma conversa. A partir de então, fica cômodo
colar selos no indivíduo e instrumentalizá-lo em benefício próprio. Nem que
seja para posar de bom moço em papo de bar, ao julgar e absolver seus crimes.
Quanto
aos abusos da polícia, obviamente devem ser observados com atenção pela
sociedade, interessa a todos que o rigor da lei também se imponha aos bandidos
de farda. Mas nada justifica engolir discurso orquestrado para impor
generalizações interesseiras - como por exemplo, de que nem todo favelado seja
bandido, mas de que todo policial necessariamente seja violento, fascista e
corrupto.
Nesta
hipótese, percebam, não resta saída para a polícia. Se decidir esperar pela
ação criminosa, falhará duplamente, antes, por ter permitido o delito, e
depois, ao usar de força excessiva na hora de deter o bandido. Se, por outro
lado, decidir prevenir, como qualquer polícia deve fazer, será acusada de
preconceito. Uma armadilha retórica boçal, mas que virou dogma de tão
difundida.
Claro
que a popularidade deste nocivo raciocínio não foi alcançada da noite para o
dia. Muito pelo contrário, representa uma construção iniciada há décadas, tanto
nas escolas, como nas faculdades, via jornalistas e formadores de opinião.
Graças a ela, noves fora a já fossilizada culpa católica, o brasileiro
emburreceu a ponto de aceitar com normalidade a carapuça de carrasco. Até mesmo
em casos assim, quando claramente é a vítima.
Antes
de regurgitarmos ideias falidas, seria mais sensato lembrar os milhões de
“pretos e favelados”, como gostam de dizer os arautos da superioridade moral,
que certamente não têm vida fácil, mas saem de casa todo dia para trabalhar
honestamente, e não para se divertir saqueando, impondo o terror e agredindo
quem encontrarem pela frente.
em
tempo: Ainda ontem, o adolescente flagrado durante o arrastão declarou ao O
Globo que roubou “por prazer”. Torço para que sua declaração sirva pra
intimidar um pouco quem, consciente ou inconscientemente, ajuda a subverter um
mínimo de bom senso que ainda deveria nos restar.
Fulanos
assim, que saem de casa para roubar e agredir, que superlotam ônibus e
comportam-se de maneira ameaçadora, devem, sim, ser detidos pela polícia. O que
não pode, é um comportamento claramente anormal, de afronta, ser contemplado
candidamente como se nada fosse, quando todos sabemos muito bem do que se
trata.
O
que, aliás, o trecho em destaque no início deste artigo - transcrito de uma
reportagem veiculada no Jornal Nacional, sobre um arrastão na mesma Ipanema há
23 anos -, deixa muito claro.
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