Parem de dizer que Dilma é honrada
Fernando Lomardo
Não são poucos os artigos e editoriais que
tenho lido examinando a caótica situação política e moral do país, e a
responsabilidade da presidente nesse quadro. Mas uma afirmação recorrente me
causa estranheza: a de que Dilma “não enriqueceu pessoalmente”. Atribuem a ela,
no máximo, negligência ou incompetência. Nada de intenção na espoliação da
Petrobras (que é só o que sabemos, por enquanto; quando estourarem Eletrobras,
BNDES e outras, não quero nem ver como vamos dormir). Alguns, como o
ex-presidente FHC, fazem questão de afirmar que Dilma é “honrada”, num momento
em que as inúmeras mentiras da presidente já se escancaram por todo o planeta e,
apesar disso, seu Ministro dos Retalhos não sabe fazer outra coisa além de
taxar o contribuinte e tentar cortar mais da Previdência.
Bem, meu conceito de honra é bem outro.
Alguém honrado já teria admitido que mentiu. Alguém honrado já teria
compreendido que não é capaz de tocar esse barco e teria pedido o boné. Alguém minimamente honrado não estaria se
agarrando ao trono de forma covarde, esperneando desesperado, oferecendo
ministérios em troca do próprio pescoço, quando aqueles deveriam ser ocupados
por técnicos e especialistas capazes de enfrentar desafios e problemas e
encontrar soluções no âmbito da gestão de Estado e não do bolso do
contribuinte.
Dilma está muito longe do que um simples
dicionário define como honrado. Com sua
empáfia, garantida apenas por cinismo e hipocrisia sem antecedentes, por
fidelidade canina à mentira, talvez por mitomania patológica, Dilma disse que
“não respeita delator”, porque ela mesma não traiu. Cerveró que o diga. Foi
delatado covardemente pela presidente, que afirmou ter assinado a compra de
Pasadena mediante relatório do pobre diretor – de resto, outro corrupto – como
se ela, presidente do Conselho de Administração, não tivesse a obrigação de ler
detalhadamente a porcaria do relatório e identificar ali as falhas,
irregularidades, incongruências. Ou seja, Dilma o responsabilizou – em bom
português, Dilma culpou o diretor internacional
da Petrobras na tentativa de isentar-se da própria culpa. Entregou um colega
para tirar o seu da reta. Se isso não é uma delação, digam-me o que é.
Por favor, jornalistas, “especialistas” e
editores, parem de dizer que Dilma é “honrada”. Parem de dizer que Dilma “não
enriqueceu pessoalmente”. Como é que vocês sabem? Têm por acaso acesso ao
extrato bancário da dona? As contas dela foram devassadas? Seu patrimônio foi
levantado? Como podem ter tanta certeza? Por quê essa ansiedade em assegurar a
honradez de uma mulher diretamente envolvida na maior operação de desvio de
dinheiro público da história política da humanidade?
Se, do ponto de vista judicial, a dita
“presunção da inocência” e as melífluas armadilhas interpretativas sobre fatos
“anteriores ao mandato” permitem que a vastidão de evidências contra Dilma
permaneça ignorada, do ponto de vista meramente factual o povo já tomou sua
decisão. Contra fatos não há argumentos, e os fatos da realidade são diferentes
dos fatos jurídicos. Se a justiça (ainda mais essa nossa justiça) continua
insistindo na presunção da inocência, a sociedade já protocolou e assinou sua
presunção de culpa.
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